quarta-feira, 29 de abril de 2009

Faroeste "cabrôco"

"Hey, garçon... me dá um Cynar!"


Saiu um "Bang Bang" baseado em fatos reais na Cultura & Arte deste 26 de Maio. Quem mora ou conhece bem Umuarama vai entender mais do que os forasteiros. Mas, porém, toda via, entretanto e mesmo assim, convido todos à leitura!


Era Uma Vez No Noroeste



Cansado de viver isolado na solidão e distância do Far West, Zé McSilva estava buscando vida nova. Galopou durante dias rumando para o Leste até que avisou um pequeno povoado. “Rancho Longe”, era o que estava escrito na placa de madeira da entrada do vilarejo, na qual, ao chegar mais perto e dar uma olhada mais detalhada, via-se um intrigante escrito à mão, logo abaixo do número de habitantes: “Povinho da Fogueira”. Mas ele estava tão cansado que lhe pareceu bem sábio pernoitar por ali mesmo.

Assim que entrou na cidade, enquanto contornava a pracinha, ficou espantado com o que viu. Marcas de tiros por todos os lados. Pensou em mudar de idéia sobre ficar por lá, mas não iria perder a chance de um trago.

Cavalgou até o “Bar do Turco Velho” logo em frente à praça, desceu do cavalo e amarrou-o no coxo. Empurrou as portas duplas vai-e-vem, entrou no salão e caminhou até o balcão. Com um tapa na madeira chamou o garçon, um velho barbudo.

- Me vê um conhaque, ô...Seo Turco!

O turco, num pulo só, serve e manda o copo de conhaque escorregando pelo balcão. O vaqueiro manda tudo goela abaixo num só gole e pergunta:

- Diga lá, índio velho! O que houve ali na praça?
- Um tiroteio dos brabos ontem de tarde, amigo! Foi o pessoal do Xerife contra uns bandidinhos canela-seca, da gangue do Wan Ted, que tentaram roubar o correio. Comeram chumbo pra dedéu ontem e agora tão comendo capim pela raiz. Hahahaha!
- Na praça? Em pleno dia? Rapaz, que perigo!
- Pois é... Ainda bem que foi na hora do sol quente, quando fica todo mundo dentro de casa. Quando ouvi os tiros pulei aqui pra baixo do balcão e não vi mais nada...quer outra dose?
- Manda! - e continua o papo:
- Viu, meu bom homem... onde eu acho um canto pr’eu passar a noite de hoje, hã?
- Ó chefia, atravessando a praça tem o hotel Águia do Oeste, o melhor da cidade, mas também... é o único! Hahaha!
- Hahaha, engraçadinho, hã! Muito obrigado, compadre!

McSilva deixa o “Bar do Turco Velho”, atravessa a praça, garante seu quarto no Hotel e tira um bom cochilo. Acorda com um barulhão de festa. Era a quermesse, cheia de gente sorrindo e festando, com direito à bandinha tocando na escadaria da igreja. Sem perder tempo, o viajante corre pra festa.

Enquanto o moço se enturmava com as donzelas e raparigas locais, foi interrompido por gritos de desespero. Um valentão armado estava ameaçando os freqüentadores da barraquinha de milho cozido e chuta um banquinho de madeira que atinge a canela de uma moça. De pavio curto, a moça reclama e faz o valentão atirar duas vezes contra ela e fugir correndo. Por sorte os dois tiros falharam e a moça só ganhou um desmaio e um bom trauma. Os homens do xerife nada puderam fazer naquele momento pois estavam na barraca do algodão doce e não tiveram tempo hábil para perseguir o bandido.

Nem cinco minutos depois McSilva ouve mais gritos e caos:

- Ai Caramba! Pisaram o Gordinho!

Corre para averiguar a situação e descobre que foram dois jovens bêbados, apostando uma corrida de cavalos, que invadiram a multidão e acabaram pisoteando um dos freqüentadores da festança. Mas por sorte ele estava perto do Dr. Zinho Xamego, médico da cidade, que prestou socorro.

Zé McSilva achou incrível como ninguém ficou abalado depois dos dois incidentes na mesma noite e manteve-se na festa. Foi especular com os nativos e descobriu que no “Povinho da Fogueira” esse tipo de coisa é corriqueira e todo mundo tá acostumado. Um tanto impressionado com a situação, vai conversar prefeito Brownman e com o xerife Bill Farofino que estavam na barraquinha de maçã do amor. Como já era tarde e ambos já estavam indo embora, marcaram um almoço ‘pra mó dum dêdiprosa’.

No dia seguinte estavam o prefeito, o xerife, o padre e McSilva no local combinado: o restaurante “Cachoeira”, bem tradicional na cidade. Papo vai, papo vem e todos tentando convencer o viajante de que aquilo tudo era coisa pouca, corriqueira, e que logo a “maré de azar” terminaria. E também o povo já estava um tanto acostumado com tal rotina, nem reclamava mais.

Já no final do almoço o grupo é interrompido por um oficial do Xerife, que entra correndo no restaurante. Alguém fora esfaqueado naquela madrugada. McSilva aproveitou a brecha para despedir-se, já um tanto preocupado em não ser a próxima vítima. Ao subir no cavalo, olhou para as autoridades e lhe veio uma outra pergunta na cabeça:

- Inclusive, excelências... Por que “Povinho da Fogueira”?

As autoridades se olham meio sem saber o que dizer. Então o padre se adianta de diz:

- Olha, meu filho... tem coisas que é bom a gente não mexer, né? São coisas do passado, coisa que pode criar uma imagem negativa pra nossa cidade, sabe como é... a gente precisa...
- Sei... vocês precisam é de vergonha na cara! – diz McSilva interrompendo o padre.

Então esporeia o cavalo, vira as costas e sai galopando, seguindo sua jornada para o Leste.


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